Sucesso na TV, Caminho das Índias vem inserindo em sua trama toda a riqueza da cultura, dos costumes e das tradições de um povo com mais de 5 mil anos de história. Fogo sagrado, romances proibidos entre dalits e pessoas de casta, superstições à flor da pele....O que de fato é real, exagerado ou puramente fictício na trama de Glória Perez? Nada melhor do que ouvir a opinião de uma indiana para conhecer a verdadeira Índia
Are Baba, Namastê, Bhagwan ke liye, atchá. Estas são apenas algumas das palavras indianas que já estão incorporadas no dia a dia de milhões de brasileiros. A novela Caminho das Índias tem ajudado a divulgar a cultura, os costumes e as tradições de um povo com mais de 5 mil anos de história e que deu ao mundo um dos personagens mais marcantes do século 20 – Mahatma Gandhi, além do fantástico monumento ao amor: o Taj Mahal.
Todo este exotismo e esta cultura milenar que caracteriza a Índia e que empolgou os quatro beatles nos anos 60 tem sido usado como uma valiosa fonte de inspiração para a trama escrita por Glória Perez. Provavelmente um belo e rico país nórdico não ofereceria tantos subsídios para enriquecer tanto um folhetim global. Mas chega de papo e de introduções, que o tchai está pronto. É isto mesmo, o portal www.saojosedoscampos.com.br tomou um tchai com uma jovem e simpática indiana que vive no Brasil há muitos anos. A professora de inglês Aasita Muralikrishna (também conhecida como Ashi) veio ao Brasil quando ainda era criança e vive em São José dos Campos. Mas tem retornado algumas vezes ao seu país de origem em suas férias. O portal SJC quer saber o que é exagero e o que é real na novela Caminho das Índias (o portal e provavelmente grande parte da torcida do Flamengo também...) .
Foto: Minha amiga Ashi!!!CASAMENTO “GANDHARVA” - Para começar, aquele “casamento maluco” entre os personagens Ravi e Camila. A família de Ravi proíbe qualquer relação entre ele e a “firangue estrangeira”, mas Ravi rouba o fogo sagrado do templo e se casa às escondidas com Camila, em um ritual que inclui, entre outras coisas, algumas voltas do casal em torno do fogo sagrado e o juramento. A família quer anular o casamento, mas Pandit diz que nada mais pode ser feito, pois o ritual seguiu um conceito dos livros sagrados. Isto parece ficção. Mas não é. Para tirar qualquer dúvida Aasita ainda liga para o pai, Polinaya Muralikrishna (que trabalha como cientista no Inpe), e ele diz que o casamento “Gandharva”, segundo a segundo a religião hindu, existe de verdade. Mas hoje em dia os indianos não costumam mais dar-se ao trabalho de fazer essa cerimônia, inclusive em casos de amores impossíveis, ou coisas do tipo.
CASAMENTO ARRANJADO – Ainda é comum em quase todas as regiões da Índia exceto em casos isolados, nas grandes metrópoles. Mas, ao contrário do que vem sendo mostrado na novela, não é o sacerdote que corre atrás de um noivo ou de uma noiva ideal. De acordo com Aasita, são as famílias que fazem esta “pesquisa”. Se o candidato (a) não agradar, o homem ou a mulher simplesmente recusa o (a) pretendente. Aasita lembra que as famílias priorizam casar as filhas primeiro. Mas de uma forma geral, antes do casamento vêm duas outras prioridades: estudar e arranjar emprego e só depois pensar em casamento. Mais ou menos como no Brasil.
FIRANGUES – Casamento entre bramanis e dalits? Nem pensar. Ou entre uma das outras castas e um dalit (que não pertence a casta alguma)? Também não é comum na Índia. Neste ponto, Caminho das Índias não “carregou” na fantasia para dar dramaticidade no romance proibido entre o dalit Bahuan e Maya (pertencente à casta dos comerciantes). Quanto ao envolvimento de indianos com “firangues estrangeiras” – tipo Raj / Duda – também há obstáculos. Aasita vive há muito mais tempo no Brasil do que na Índia e é casada com um brasileiro. Mas diz que as famílias indianas não simpatizam muito com a ideia de verem seus filhos casados com firangues. “São pessoas que têm costumes e valores diferentes. Quando o casal vive junto, estas diferenças podem aparecer. O indiano vê o ocidental, principalmente os que vivem em certas regiões da Europa, como um povo individualista e de certa forma com um certo sentimento de superioridade, uma certa arrogância. Os brasileiros já são mais parecidos com os indianos. Aqui há mais calor humano”.
NORAS NAS CASAS DOS SOGROS? – Na novela de Glória Perez, três noras vivem juntas na mesma casa de seus sogros. Neste ponto, há uma certa fantasia. Ashi diz que isto só acontece quando os noivos não têm condições financeiras de terem a sua própria casa.
LÁ OS MAIS VELHOS MANDAM – Ao contrário do Brasil (onde o aluno constrange o professor e o filho acha que sabe bem mais que os pais), na Índia os mais jovens realmente respeitam os mais velhos. “O exemplo do respeito aos mais velhos, é bem verdade. Digo isso me baseando no que vejo quando vou pra lá... minha família, conhecidos... mas acredito que, obviamente, existam os rebeldes sem causa, como em qualquer lugar.”
SUPERSTIÇÕES – Glória Perez tem explorado de forma divertida (talvez com certo exagero) o lado supersticioso do povo indiano. “Quando eu era criança, deixei um livro aberto para ir buscar algo na cozinha. Minha mãe não gostou. Disse que eu não podia deixar um livro aberto e sair por aí, por que senão “o coisa ruim” iria ler o livro aberto e eu não conseguiria aprender depois”, conta Ashi, rindo. Outra superstição interessante é o hábito dos indianos de não pegarem dinheiro com a mão esquerda. E eu lembro Ashi que aqui no Brasil o povo pega dinheiro com qualquer mão. Se for necessário, até com os pés. Mas em termos de superstições não ficamos muito atrás. Há uma lista enorme delas, como por exemplo, evitar passar debaixo de uma escada, entrar no gramado ou na quadra com o pé direito e por aí vai...
SEGUINDO AS TRADIÇÕES – O povo indiano gosta de seguir as tradições mais antigas. “Isto passa de geração para geração. As pessoas não costumam questionar. Costuma-se dizer que regras e costumes não servem para serem questionados, mas sim, seguidos”, diz Ashi.
ANIMAIS SAGRADOS - Segundo Aasita, para o povo indiano os animais têm tanto direito ao respeito e à uma boa vida como os homens. Não apenas a vaca, mas o boi também é considerado um animal sagrado. O leite da vaca não só alimenta as crianças e os adultos, como também é necessária para os rituais religiosos Hindu. Um Hindu não deve comer a carne bovina, nunca pôde.
DANÇA – Na casa dos “Anandas”, todos dançam, principalmente as duas meninas pequenas. Cena vai, cena vem, quase todos os personagens indianos de Caminho das Índias, vivem dançando. Há um certo exagero nisso. “Eu não diria que os indianos dançam em casa, homens, mulheres e crianças juntos, no meio do dia! Mas principalmente no norte do país, os indianos gostam muito mesmo de dançar... então costumam dançar muito em festas de casamento, em datas comemorativas e outras festas e ocasiões. Principalmente crianças e jovens.”
LORD GANESHA - “É um deus muito adorado pelos hindus. Há uma estória por trás da cabeça de elefante no corpo de homem. Os indianos costumam rezar pra esse deus sempre antes de iniciar grandes cerimônias ou antes de enfrentar momentos decisivos... para superar os possíveis obstáculos que possam impedir o sucesso nesses momentos. Em
casamentos, Ganesha é quem aparece na capa dos convites e também quem é venerado logo no início da cerimônia.”, diz Ashi.
MAIS SOBRE A ÍNDIA (por Aasita Muralikrishna e Polinaya Muralikrishna) – Falar sobre o país de Gandhi é também falar sobre o tchai, a bebida mais popular daquele país e principalmente sobre as castas. Veja a seguir um resumo sobre as quatro castas existentes na Índia e também uma receita para você fazer um autêntico tchai em sua casa. Veja também pequeno glossário indiano.
As quatro castas principaisBrahman: estudiosos e religiosos a qual pertencem os sacerdotes.
Kshatria: nobreza - reis, rainhas etc.
Vaisya: Comerciantes e vendedores.
Sudra: trabalhadores braçais que fornecem serviços (mão de obra) em geral
O s "Dalits" ainda existem, mas é crime considerar um Dalit como intocável, como no Brasil é crime mostrar racismo ou praticar escravidão.
Algumas palavras e expressões indianasNamastê – O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você
shukriah - obrigado(a)
Bhagwan ke liye - por Deus!
are Baba! - Meu Pai! / Nossa! / Ai, meu Deus...
tik hé - tudo bem
atchá - bom / ah, eh? / olha! / está bem (depende muito da entonação)
tchalô - vamos (usado somente quando se fala com alguém mais novo)
tchaliyê - vamos (usado com alguém mais velho)
babu dji - pai
ma dji - mãe (A palavra “dji” é usada como “senhor” ou “senhora”.)
tchup raho (Não "Chup Karo" como os atores falam) - fica quieto
sunô - ouça (usado para pessoas mais novas que você)
suniye dji - ouça ( senhor / senhora )
Jeete Raho Bettê/Betti - Seja vitorioso(a), filho (filha).
(quando o mais velho toca a cabeça do mais novo, abençoando -o)
Bhagwan dji - Sr Deus
nahí - não
kutch nahí - nada
tchatcha - tio (irmão da mãe)
dadi - avó
deko - veja! (usado para pessoas mais novas)
dekiye - veja! (usado com pessoas mais velhas)
Receita de Tchai
(chá indiano)
Ingredientes:2 xícaras. de água
2 colheres de chá de chá preto em pó (ou como folhas – “tender leaf tea”)
1/2 xícara de leite quente ou morno
açúcar a gosto
Modo de preparo:
Em uma panela pequena, ferver a água. Quando a água estiver levantando fervura, adicionar o chá, (nunca ferver as folhas – vai ficar amargo ) desligar o fogo e tampar a panela. O fogo desligado irá evitar que o chá fique amargo. Depois de 5 minutos (ou um pouco menos), coe o chá e adicione o leite e o açúcar. Existem diversas receitas do tchai indiano, muitas delas utilizando especiarias como gengibre, cardamomo, pimenta-do-reino, canela, cravo-da-índia e até amêndoa em pó. As receitas variam de uma região para outra, na Índia.
Fonte: Nassif Mikael Kouri é jornalista, colaborador do portal www.saojosedoscampos.com.br e editor da revista Maganews – www.maganews.com.br
20/06/2009